Não sei se viajo com a ilusão de cruzar-me com novas realidades ou se anseio encontrar semelhanças nas aparentes diferenças. Move-me a ideia de conhecer e descobrir e Hamburgo, mais do que uma opção, foi uma oportunidade a explorar. No calendário a viagem não encaixou mas a ânsia de mudar de ares foi determinante.
Respeitando as previsões meteorológicas empacotei roupa quente, que resgatei do fundo do armário, mas praticamente não a utilizei. Levei o bom tempo na bagagem.
Palmilhei a cidade. A envolvente do porto de Hamburgo está rejuvenescida e é acolhedora. O olhar perde-se na imensidão dos canais do Rio Elba e as incontáveis e gigantescas gruas, que não incomodam, são um elemento essencial na paisagem. Os edifícios apresentam-se renovados e as margens agitam-se repletas de gente. O castanho que camufla o rio denuncia que não é uma zona balnear.
Para atravessar o rio a melhor opção é mergulhar no Elbtunnel, percorrer sem pressa os seus quase 450 metros, e redescobrir o porto na outra margem. O túnel foi inaugurado em 1911 e, mais de um século depois, continua a ser utilizado pela população para saltitar entre as margens.
No entanto, a jóia da cidade é a Elbphilharmonie que se plantou majestosa na extremidade de um cais. O edifício é cativante por fora e não menos interessante por dentro. A subida para a ampla Plaza é feita através de uma curiosa escada rolante que se perde de vista. A varanda a 37 metros de altura oferece outra perspectiva do porto mas não desvenda nenhum segredo.
Gostei da zona histórica, entretive-me no submarino U-434, demorei-me no enorme International Maritime Museum, brinquei no parque Planten Un Blomen mas não romancearei uma cidade que não me comoveu.
Alternam-se quarteirões tranquilos com ruas e jardins onde a mendicidade está densamente enraizada. A população errante ocupa enormes espaços públicos. Importa referir que em nenhum momento constatei um sentimento de insegurança mas, no curto percurso entre a Berliner Tor e a Rathaus, os contrastes são abruptos.
Rumei para norte até à cidade de Lübeck onde a zona histórica, envolvida pelas águas do Rio Trave, assume os contornos de uma ilha. O espaço é tranquilo, permite passear sem pressa, e destaca-se pelo seu conjunto: o todo é mais do que a soma das suas partes.
Imaginei Hamburgo como uma cidade cosmopolita, renovada da industrial herança e virada para o Mar do Norte. Não me enganei e a cidade é uma óptima visita mas não me conquistou. Lübeck, pelo contrário, é um doce que só ganhará se continuar afastado da grande confusão de Hamburgo.
Nesta viagem desafiei-me a fotografar apenas com uma distância focal fixa (crop 23mm). Poderia elogiar a evidente portabilidade do equipamento e lamentar as limitações sofridas mas prefiro festejar o rejuvenescimento da experiência de fotografar.
Paulo Vyve