Aterrei em Sofia pelas 4 horas da madrugada. Meia hora antes do previsto. Coleciono atrasos durante o ano em voos e quando não tenho pressa aterro antes da hora… A cidade (e eu) estávamos baralhados: seriam horas de dormir ou horas de despertar? Sem pressas, enquanto as pessoas lentamente iniciavam um dia quotidiano, fui-me acomodando.
O centro de Sofia é plenamente visitável sem recurso a transportes. Serdika foi o ponto de partida com a estátua homónima da cidade (Sveta Sofia) a separar o norte do Sul. Aqui está um dos pontos mais bonitos da cidade: as antigas ruínas romanas que se podem percorrer estão no subsolo e cobertas por uma galeria envidraçada com vista para os imponentes edifícios no exterior.
A língua e as pessoas não são calorosas e não permitem ignorar que nesta ponta da Europa a empatia não é normalmente coroada com um sorriso. Talvez não ajude não compreender o alfabeto cirílico nem conhecer uma única palavra em búlgaro. O inglês, como sempre nestas circunstâncias, constrói as pontes entre as pessoas e não há dificuldades de entendimento.
A sul de Serdika estão as ruas pedonais mais concorridas, as maiores esplanadas e uma maior oferta cultural. As igrejas e os locais de culto estão por toda a parte. Pesquisar pontos de interesse na internet resulta numa lista de igrejas, mesquitas e sinagogas.
Quem não se cativa por este tema encontrará outros pontos de interesse mas a Alexander Nevsky Cathedral é um marco incontornável na cidade. O mais conhecido postal de Sofia, cercado por estradas e estacionamentos como se fosse uma rotunda, está engolido pelo dia-a-dia citadino. As melhores fotos da catedral são aéreas porque ao nível dos olhos humanos o enquadramento não é fácil. Na cidade abundam pequenos parques e estátuas que recordam um passado relacionado com a Rússia.
E há museus e exposições para quem se interessar. Entrei no Sofia Arsenal – Museum of Contemporary Art e no Sofia City Art Gallery e em nenhum dos casos fiquei desiludido.
A Plovdiv foi atribuído em 2019 o título pomposo de Capital Europeia da Cultura o que poderia sugerir um reconhecimento genuíno. A cidade publicita-se com o galardão e percebe-se que há diversos eventos e iniciativas a decorrer. Nenhuma delas parece majestosa mas há uma expectativa que se alimenta.
Abundam os turistas na longa e pedonal avenida Knyaz Aleksandar que culmina na praça do antigo estádio romano visível desde cima. A multidão pouco se aventura no centro histórico cuja calçada, de tempos antigos, não é confortável nem quando os pés estão equipados com ténis. O teatro romano, a referência maior, de uma cidade há milénios habitada é mantido sem esplendor. A vista para a cidade e os íngremes degraus são manchados por cabos soltos, ausência de painéis informativos ou de vigilantes que assegurem a preservação do espaço. O investimento na infra-estrutura resume-se à bilheteira e nada mais.
Numa outra ponta do centro histórico está o miradouro Nebet com mais vestígios arqueológicos. Neste caso não é cobrado nenhum bilhete e o cuidado com o espaço é inexistente.
Nada me encantou. A visita recordou-me que algumas distinções visam promover-se a si mesmas. Plovdiv é a capital europeia da cultura para crescer com isso e de certeza que a segunda maior cidade da Bulgária saberá aproveitar essa oportunidade e dinamizar as suas jóias.
A Bulgária é um país que nos meus tempos de criança me soava a algo muito distante. Ouvi os elogios aos seus jogadores de futebol numa idade em que não conhecia outros desportos. Era um país que mais tarde, pela sua localização geográfica, inseri num contexto distinto da europa ocidental. Agrada-me constatar que actualmente imensas infra-estruturas e iniciativas são ou foram promovidas pela União Europeia.
Sei, contudo, que visitar Sofia e Plovdiv não é conhecer a Bulgária. Há um país rural onde os suspiros cosmopolitas serão ainda uma miragem mas creio que a juventude, que muitas vezes enverga negras t-shirts metaleiras, terá um futuro mais europeu que as gerações anteriores.
Paulo Vyve