São infinitos os rankings de destinos elaborados cientificamente por revistas e guias de viagens. É uma poluição pouco racional porque comparam-se coisas diferentes. Ouço “Top 10 das Melhores Ilhas” e pergunto-me “melhores para que?” ou “melhores para quem?”.
Dificilmente a Gran Canaria figurará no topo de alguma dessas listas exóticas. Talvez a capital da ilha, Las Palmas de Gran Canaria, seja líder na lista das “Cidades com Mais População no Arquipélago das Canárias”.
No entanto, mais uma vez, quantidade está longe de significar variedade de pontos de interesse. Na cidade esses escasseiam. As ruas são feias, esquecidas e como é normal em zonas densamente povoadas há alguma pobreza flagrante.
Na zona urbana sentem-se os ares de África que a geografia assegura estarem próximos. Nem tudo se parece europeu. Mas há pessoas simpáticas e isso continua a ser o mais importante.
Percorri e estendi-me na Playa de las Canteras que com os seus 3 longos quilómetros merece ser a principal atracção. Sente-se o turismo mas há espaço para todos. Entrei no museu Casa de Colón e deambulei um pouco pela cidade.
Atravessei a ilha para a Playa del Inglés a sul, bastante carregada de gente, mas com as mágicas Dunas de Maspalomas ali ao lado. A sua imensidão é ampliada no horizonte com a beleza que se contempla. Não é a areia de um deserto mas à vista desarmada o fim parece não existir. Assisti ao pôr-do-sol e fiquei viciado na fotografia das pessoas nas cristas das dunas. Antes de abandonar a ilha visitei de novo as dunas porque a natureza tem esta capacidade de nos arrebatar com a simplicidade.
A sudoeste visitei também as a pequena Playa de Mogán e a mais agradável Playa de Amadores.
Em Tejeda, no rochoso interior da ilha, contemplei o imponente Roque Bentayga. Segui para o Mirador Degollada de Becerra onde no horizonte observei o majestoso Roque Nublo. Subi ao Mirador del Pico de los Pozos de las Nieves que oferece o deslumbrante perfil montanhoso da ilha. Tive a sorte de ver no horizonte, a furar as nuvens, o pico do vulcão Teide na ilha vizinha de Tenerife.
No Mirador de la Goleta iniciei a caminhada, com passagem próxima pelo rochedo El Fraile, para aproximação ao Roque Nublo. A sua singularidade é denunciada ao longe mas contemplado desde a base é profundamente poderoso com os seus 67 metros de altura. Terminei este dia em Artenara.
A norte não me encantei no Pico de Bandama onde a cratera de um antigo vulcão passa despercebida. Viajei até Arucas onde passeei pelas ruelas e pelo parque municipal antes de investir numa visita à destilaria Arehucas. Conduzi até à Villa de Moya, fui até Agaete, onde a praia não tem areia, e parei sem história em Gáldar.
A viagem sem planos definidos conduziu-me por 771 quilómetros ao volante de um Fiat 500 vermelho já bastante castigado pelo uso. A ilha é rica e oferece uma equilibrada mistura de praia e montanha. Muitas vezes a melhor forma de ficarmos agradavelmente surpreendidos é não ter expectativas e foi isso que aconteceu.
Paulo Vyve