Depois de uma rápida escala em Bruxelas o avião tocou a encharcada pista do Flughafen Wien Schwechat, em Viena. A chuva vincou a certeza de que Lisboa repousava a milhares de quilómetros. Nem todas as cidades imperiais conquistaram o sol!
Na vã tentativa de conservar os pés secos, a exploração da cidade começou pelos museus. A primeira paragem foi no Oberes Belvedere, o palácio superior do complexo de Belvedere que inclui ainda o palácio inferior e enormes e ornamentados jardins. A colecção de pintura exibida é vasta e suficientemente valiosa para converter o comum visitante num fã incondicional de Gustav Klimt. O expoente máximo é apresentado com “Judith I” e atingido em “Der Kuss”.
O Kunst Historisches Museum, o museu da história de arte, apresenta imensas antiguidades egípcias e do próximo oriente que incluem hieróglifos, sarcófagos, animais mumificados, artefactos, urnas de múmias humanas… Há ainda uma enorme colecção de pintura de onde se destaca “St. Michael Vanquishing the Devils” de Luca Giordano e “The Death of Cleopatra” de Guido Cagnacci. Do outro lado de um pequeno jardim, reside o Naturhistorisches Museum, o museu de história natural. O seu interesse reduz-se à pequena estatueta Vénus de Willendorf, com cerca de 24 000 anos.
Entre as visitas aos museus foi possível atravessar o Botanischer Garten, fundado em 1754; contemplar a Schwarzenbergplatz com a Hochstrahlbrunnen no centro e o grandioso monumento à libertação da cidade pelo Exército Vermelho; apreciar as deslumbrantes colunas da Karlskirche, construída para festejar o fim da peste de 1713; fotografar os pavilhões da Karlsplatz da autoria de Otto Wagner; deambular pela Stephansplatz e observar os turistas a devorarem a Stephansdom e a Peterskirche.
Pisou-se também a rica e faustosa zona de Hofburg. A fachada da Spanische Hofreitschule, a conceituada escola de equitação espanhola, é adornada com fabulosas esculturas! Ainda em Hofburg há o Neue Burg, que aloja a biblioteca nacional, o Burgtor, a Josefsplatz, o Museu Albertina e o jardim Burggarten onde existe um memorial a Mozart.
Do outro da cidade, o palácio e os jardins de Schloss Schönbrunn são majestosos. Tudo é fausto, tudo é impressionante! A imensidão dos jardins, as fontes, as esculturas, a perspectiva da cidade junto à Gloriette e a riqueza do próprio palácio são, provavelmente, o que há de melhor em Viena!

Nos jardins de Schloss Schönbrunn, Viena

Os apartamentos Hunderwasser Haus, construídos em 1985 por Friedensreich Hunderwasser, são uma ternura. As habitações estão delimitadas na fachada por cor, as janelas ganham formas distintas e as árvores invadem as varandas e ocupam áreas comuns! Contrariando a arquitectura moderna Hunderwasser deu personalidade ao edifício, cuidou de todos os pormenores, trabalhou os detalhes.
Por acaso do destino foi possível conhecer o que só é acessível aos moradores: o interior do prédio e um apartamento! As habitações não apresentam luxo mas as áreas comuns do edifício são ricas! Há espaço para as crianças brincarem, paredes para serem pintadas e flora, muita flora! Mas o mais curioso é o chão que, excepto nos apartamentos, não é plano. Este capricho tem uma argumentação deliciosa por parte do próprio artista: o Homem está habilitado a caminhar sobre pisos não planos e não deve perder a sensibilidade do seu toque nem negligenciar o seu equilíbrio; É natural e desejável experimentar e ultrapassar os obstáculos!
As deambulações pela cidade incluiram ainda encontros com as imperdíveis imagens que reproduzem Viena nos postais. O parlamento, o teatro Burgtheater, a Neues Rathaus, que abriga a Câmara Municipal ou ainda a Votivkirche são bons exemplos da grandiosidade da cidade. Atravessou-se a praça e a passagem de Freyung, passou-se pela Am Hof e pelo Hoher Markt. Perto da Karlsplatz está o dourado Edifício da Secessão, o concorrido Naschmarkt e a vaidosa Mariahilfer Strasse repleta de comércio.
O desejado Danúbio foi obviamente um local de peregrinação. Para um melhor convívio com a cidade, em Viena o rio ganha três novos braços. Assim, além do “Donau”, há o “Obere Donau” a norte, o “Neue Donau” paralelo ao rio e o “Donaukanal” que entra pela cidade.

Na Floridsdorfer Brücke sobre o Danúbio, Viena

A chuva que se fazia sentir elevou o nível da água. Um rio com mais de 2800 quilómetros merecia um caudal assim tão grande! Mas como a subida era recente o rio ainda transportava tudo o que nas margens estava a mais. A cor castanha da água contrastou com a imagem da minha imaginação… O Danúbio azul foi, e continuará, uma ilusão culturalmente romântica.
A obra de Mozart, talvez o filho mais querido dos austríacos, alimenta uma enorme indústria assente no turismo. No Palais Auersperg, a Wiener Residenzorchester toca Mozart e Johann Strauss a solo, com ballet e acompanhada por um cantor de ópera. A minha presença neste espectáculo dificilmente faria sentido noutro local do planeta.
A poucos quilómetros de Viena está Bratislava, a capital da Eslováquia. Previsivelmente o omnipresente Danúbio une as duas capitais.
Bratislava é uma cidade efectivamente pequena mas cuidada. Os edifícios e as construções mais antigas espelham as fronteiras que se moldaram com guerras, invasões, impérios e reinos. Mas há uma cidade nova a nascer nas esplanadas. É um mimo percorrer as calmas ruas e praças onde as lojas de recordações ainda são difíceis de encontrar! Pobre turista!
Perto da estação de autocarros fica a catedral Dómu Sv. Martina. O convite para subir a colina até ao castelo de Bratislava é irresistível. Do alto é possível ver o Danúbio, as pontes que orgulham a cidade, e ao longe a Áustria! Do outro lado contempla-se, isolado num outro monte, o imponente Slavín, um memorial aos soldados russos que morreram na libertação da cidade em 1945.
Não são necessárias muitas horas para percorrer todo o centro histórico. Começando pelo teatro Slovenské Národné Divaldo rapidamente se chega à antiga câmara municipal, a Stará Radnica, que divide duas belas praças: a Hlavné Námestie e Primaciáline Námestie.

No jardim da Hviezdoslav Námestie, Bratislava

A uma curta distância encontram-se estátuas curiosas: o Napoleonský Vojak, representa um soldado de Napoleão envolvido no bombardeamento da cidade em 1809; o operário Cumil espreita pela tampa do esgoto; o Paparazzi fotografa os mais famosos e o Schöne Náci saúda quem passa!
Michalská Brána, a única antiga porta da cidade não destruída, aloja um museu de armas. Da torre contempla-se toda a cidade.
Percorrer milhares de quilómetros, para fugir à rotina diária, é particularmente proveitoso quando conseguimos valorizar o que de bom já conquistámos em Lisboa. No regresso, e ainda no aeroporto, despimos a mais grossa lã, que nos protegia do frio, e entregamo-nos de braços abertos a tudo o que nunca deixou de nos esperar.
Paulo Vyve

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