Há quem defenda que as Maldivas são o Paraíso na terra mas, independentemente da intensidade individual desse conceito, a verdade é que as diferenças, se existirem, são ténues. A promessa “no shoes, no news” é uma ameaça séria.
A distância de Portugal até ao grupo de atóis, situado a sudoeste da Índia, é desmotivadora… O avião voou para o aeroporto de Heathrow, em Londres, levantando de seguida para Doha, no Qatar, e posteriormente para Malé. Já nas Maldivas foram necessários mais quarenta minutos de hidroavião. Sem grande exactidão, entre aeroportos e aviões viveram-se 24 horas.
Ao sobrevoar as Maldivas vemos um oceano pincelado de azuis claros que envolvem pequenas ilhas com uma flora densamente verde. Nas poucas que possuem habitantes as construções concentram-se no exíguo espaço existente.
O Kuredu Island Resort ocupa uma ilha a norte do atol Lhaviyani. São 1.500 metros de comprimento por pouco mais de 300 metros de largura. A extensão das praias de areia branca, que contornam a ilha, não ultrapassa os 3.500 metros. No reduzido espaço contam-se mais de 300 quartos, vários restaurantes e bares, diversas lojas, centro de mergulho e de desportos náuticos, campos de ténis, voleibol e futebol. Existe ainda o primeiro campo de golf das Maldivas! Relativamente às infra-estruturas disponibilizadas apenas o inovador conceito de “spacious open-air bathroom” provoca alguma admiração (apesar da designação alarmante pouco há além do convencional)…
A temperatura da água agrada ao corpo que repete os mergulhos com entusiasmo. Equipado a rigor dedicam-se largas horas ao snorkeling. Junto ao hotel, no Kuredu House Reef, percorrem-se as praias, os recifes e a vida aquática envergonha o mais colorido arco-íris! As cores são infinitas, brilhantes! Os corais criam a envolvente, os peixes que são de todos os tamanhos e feitios nadam descontraídos ao lado dos humanos… É possível ser atropelado por um cardume! Dentro de água existe um maravilhoso espectro de vida que, pela quantidade, não será fácil de rever noutro local. Até a sensação de visitar um navio afundado está próxima. É simplesmente indescritível! Porque o espanto merece ser alimentado seguiu-se de dhoni, o tradicional barco maldivo, para dois locais diferentes: Tinga Giri e Komandoo House Reef.
Entre as amizades travadas com os seres do maravilhoso mundo aquático destaco, pela sua singularidade, o Tubarão de Pontas Negras do Recife (Carcharhinus melanopterus), a Moreia Pintada (Gymnothorax favagineus), a Manta (Manta birostris), o Peixe Escorpião (Pterois miles) e a Tartaruga Verde (Chelonia mydas). A menção honrosa vai para o vulgar Atum, o fiel companheiro maldivo, que, por preferir as águas mais profundas, só foi encontrado, refeição após refeição, nos menus do restaurante.
O desejo de conhecer o meio onde as populações vivem sugeriu uma visita à ilha de Felivaru integralmente ocupada pelo Felivaru Fisheries Complex. Este projecto, iniciado em 1977, produz conservas de atum essencialmente para exportação. Todo o peixe utilizado é pescado à linha para evitar a captura ou a morte de golfinhos nas redes de pesca. A preservação ambiental é uma preocupação nacional e todas as entidades são envolvidas.
A vizinha ilha de Naifaru tem uma população de aproximadamente 4.500 pessoas. A ilha é essencialmente habitacional mas por ser a capital do atol dispõe de hospital e estabelecimentos de ensino até ao secundário. As profissões mais técnicas são efectuadas por mão-de-obra estrangeira oriunda de países vizinhos como o Sri Lanka ou a Índia. Os alicerces da economia das Maldivas são o turismo e a pesca.
A descrição do guia do grupo sobre a sociedade maldiva merece alguns destaques: não há impostos directos sobre o rendimento mas em compensação os cuidados de saúde são pagos; a terra é livre e pode ser ocupada por qualquer um desde que haja autorização do responsável da ilha; fora dos hotéis, em consequência da cultura islâmica, as mulheres são convidadas a tapar o corpo entre os ombros e os joelhos e o consumo de álcool não é permitido.
A viagem de regresso antecipava-se mais longa que a de ida, o que permitiu, na Alemanha, visitar uma pequena parte da cidade de Munique. O moderno estádio Allianz Arena surgiu a caminho do centro onde se percorreu o Alter Botanischer Garten, o Antigo Jardim Botânico, cuja origem remonta a 1808. Seguiu-se pelo Justizpalast até à Maximilians Platz.
Com o tempo contado, a opção de subir para o autocarro da Sightseeing Munich foi sensata. Seguiu-se para a Konigsplatz onde os dois monumentais edifícios neoclássicos, datados do século XIX, são ocupados por dois museus dedicados à arte antiga: Staatliche Antikensammlungen e Glyptothek.
Após a Karolinenplatz, na Platz der Opfer des Nationalsozialismus está instalado um monumento às vítimas do regime nazi e um pouco mais à frente, na Odeonsplatz, estão os três arcos da Feldherrnhalle e a Theatinerkirche. A caminho da Max Joseph Platz até ao majestoso edifício do Nationaltheater, passamos pelo Prinz Carl Palais. A poucos metros, na outra margem do rio Isar, está o Maximilianeum, o actual parlamento da Baviera.
Novamente na margem ocidental, a Torre Isartor e a Karlstor, duas antigas portas da cidade, datadas do século XIV, ainda resistem. Foi ainda possível ver a Altes Rathaus e a Neues Rathaus, respectivamente, a antiga e a nova câmara municipal e passear uns minutos na Neuhauserstrasse.
O regresso ao Flughafen München, o aeroporto de Munique, garantia a passagem directa para o universo português. Lisboa, menina e moça, persiste como a cereja no topo do melhor dos bolos.
Paulo Vyve