Quando se sucedem convulsões políticas, meteorológicas e ambientais o desejo de mergulhar, de descer além da superfície terrestre onde profetas da crise se amplificam, é uma sugestão ardente. Elegeu-se a ilha de Santiago, em Cabo Verde, como base de acolhimento para as explorações subaquáticas que ocorreram a sul, nos arredores da Cidade Velha e da Praia, e também a norte, no Tarrafal.
Os mergulhos sucederam-se até à dezena na ânsia do inexistente peixe graúdo. Entenda-se que a vida animal não faltou mas não excedeu as expectativas nem em quantidade nem em dimensão. É compreensível que um povo cercado pelo mar pesque intensivamente. Agradavelmente a temperatura da água flutuou à superfície entre os 29ºC e os 28ºC e apenas algumas termoclinas, conjugadas com o pouco neoprene, arrepiaram os corpos até ao limite do suportável.
Logisticamente os meios escassearam e o engenho humano potenciado pelos genes lusos improvisou. Uma pick up foi transformada num autocarro. E um pequeno barco de madeira converteu-se simultaneamente num cacilheiro e rebocador de outra rudimentar embarcação. Querer ainda é poder.
As condições do hotel eram suficientes e uma caminhada de 500 metros, num caminho que se apelidava de estrada, permitia chegar à Cidade Velha intimamente ligada com a presença portuguesa no arquipélago.
A Cidade Velha sem o esplendor que em séculos passados terá exibido é uma povoação sossegada onde resistem algumas marcas do colonizador como o Pelourinho, o Forte de São Filipe e as desinteressantes ruínas da Sé Catedral. A beira-mar é triste e rochosa com a escassez de areia que se ouve ter sido colhida por mulheres para alimentar uma mesa que não se quer vazia.
Na Praia, capital da ilha e da nação cabo-verdiana, não se sente a insegurança que se denuncia mas como em qualquer meio urbano as pessoas circulam desinteressadas com sorrisos fechados e sem apetite para interagir. A cidade é pouco atraente e não convida a grandes excursões. Entre o trânsito que se vai complicando reinam as “iásse’s”, viaturas similares às Toyota Hiace, que transportam a população e que permitem ao turista um contacto mais próximo com os locais.
A ilha de Santiago, que não será a mais turística do arquipélago, é impressionante quando se abandonam os cinzentos centros mais urbanizados. Montes e montanhas erguem-se e forram-se com um verde vivo que acomoda pequenas povoações onde as pessoas pela simpatia combatem uma pobreza envolvente.
Nos arredores de Pedra Badejo caminhou-se num imenso campo agrícola onde diversas frutas exóticas alimentavam e ocupavam a população. No topo de uma colina rochosa, apenas acessível a pé, instalou-se uma pequena aldeia anunciada como Ribeira Riba. A comunidade, repleta de crianças, rapidamente abriu as portas num gesto simultaneamente ingénuo e sincero. A curiosidade era mútua e se a uns poderia impressionar a opulência a outros fascinava a beleza da simplicidade. Não é fabuloso roubar um sorriso desinteressado a um desconhecido?
A hora de regressar chegou sem atrasos e deixou para trás uma ilha repleta de contrastes e cores. O maior interesse foi encontrado nos montes interiores onde a natureza humana, distante das vãs pretensões construtivas do homem cosmopolita, permanece fiel a uma pureza sábia e harmoniosa.
Paulo Vyve