Há que cruzar todo um oceano para alcançar as eternamente idílicas Caraíbas. A viagem é longa, porque tudo deve demorar o seu tempo, mas passa a voar quando se antecipa um merecido templo para descansar.
Aterrou o avião numa pista manchada por poças de água que a chuva, acabada de cair, deixou para se anunciar aos vindouros. Em terra iniciou-se uma viagem de autocarro de Montego Bay até Negril. As estradas, que são toleráveis, envolvem-se numa imensa floresta cerrada que se prolonga pelas montanhas num tom vivo. As habitações e estabelecimentos comerciais que surgem nas bermas da estrada não revelam luxo. O tijolo e o cimento apenas se encontram nos maiores aglomerados populacionais onde tudo continua plenamente rural. Não há excentricidades.
A praia, que é o propósito da viagem, não se revela espantosa. A areia natural que em Negril existe, ao contrário do que se vai ouvindo relativamente a Montego Bay, não abunda em profundidade. As praias são extensas mas pouco espaçosas. Salva-se a água que é quente como se deseja para conservar e confortar os corpos durante horas.
Seja na praia ou na piscina há permanentemente música a soar. Os acordes relacionam-se sempre com um reggae que se quer manter como símbolo. Após alguma habituação os tímpanos filtram a poluição sonora e o ruído apesar de repetitivo torna-se suportável.
Na senda de uma cultura descontraída há chavões que se ouvem como cumprimento. “No problem” e “respect” são marcos culturais e surgiriam aliados ao publicitado dom da marijuana se por lei a compra, venda e consumo não fossem proibidos. É fácil perceber que quem quiser comprar para guardar como recordação, ou algo mais, não sentirá dificuldade prática.
Seria de mau gosto, talvez até um sinal de pouca educação, não espreitar as profundezas do Mar das Caraíbas. Os recifes da Bloody Bay são tão concorridos por mergulhadores como por pescadores que em comum partilham o prazer pela vida submarina. Separa-os o facto da pesca ter, ao longo dos anos, exterminado grande parte da fauna. Os corais são tristemente povoados por poucos e pequenos peixes que à medida que crescem enfrentam enormes probabilidades de serem ceifados. É uma pena que os recifes junto à costa não sejam melhor preservados.
De catamarã percorreu-se a costa de Negril, com paragem nas modestas Pirate’s Caves e no antigo farol, até ao popular Rick’s Cafe onde os turistas chegam em peregrinação. Das alturas dos céus atiram-se jovens para a água, cobram gorjetas pelo espectáculo e são imitados pelos curiosos forasteiros. É a animação tradicional do local.
Visitaram-se também, depois de mais uma longa viagem pelo interior da verde ilha, as Ys Falls, umas cascatas, e o Black River, um rio famoso pela presença de simpáticos crocodilos. As cascatas não sendo impressionantes são agradáveis embora a água, muito longe de ser cristalina, não convide a banhos. Os crocodilos são grandes como se anunciara mas longe estão do seu estado selvagem. Aparentam, apesar da envolvente natural e da liberdade, ser um produto para recreação turística.
A chuva que visitava uma vez por dia a praia, em períodos nunca superiores a uma hora, instalou-se sem educação na última noite. Choveu permanentemente na ausência do sol, choveram os cântaros, revoltou-se o mar que antes era um chão, soprou o vento que derrubava o que o confrontava… E a água continuava a jorrar sem cessar. As estradas permaneceram transitáveis, os aviões não deixaram de descolar e aterrou-se em Lisboa na ânsia de recuperar o conforto e os sonhos que a distância afasta.
Paulo Vyve