Na ilustre Côte d’Azur, respira-se um ar raro despoluído de notícias recessivas e desmotivantes. O requinte material das baías, que acolhem o Mar Mediterrâneo, proporciona uma atmosfera pouco acessível ao comum mortal.
Nice toca a água salgada na Promenade des Anglais que, nos seus cerca de 7 quilómetros, é percorrida por automóveis elegantemente caros. As urbanas scooters primam descomplexadas pela quantidade ao lado dos super desportivos de quatro rodas. Na praia a areia está extinta mas proliferam as dispendiosas espreguiçadeiras que mimam a paisagem rochosa.
Pelas ruas estreitas da histórica Vieille Ville, junto à Colline du Château, deambulam apenas os turistas. No topo da colina ergueu-se, em tempos passados, um castelo. Actualmente sobram umas pedras em sua homenagem e o espaço é ocupado por um parque recheado de crianças com uma fabulosa vista sobre a cidade.
A central Place Masséna ganha à noite uma iluminada vida que durante o dia não é devidamente notada.
O primeiro contacto com o Principado do Mónaco revelou um Grande Prémio de Fórmula 1 acabado de terminar. A ligação entre o orgulho monegasco na sua competição automobilística e o galhardete da Scuderia Ferrari é um amor perfeito entre “querer” e “poder” com relevantes motivações comerciais.
O espaço é partilhado por dez bairros que no terreno não se distinguem. Os contos de fadas poderiam todos ocorrer naqueles jardins e ruas cuidadas, ordenadas e simpaticamente povoadas. Se as pessoas precisam de sonhar, e se objectivos materiais ajudam, as páginas das revistas cor-de-rosa deveriam impor visitas de estudo ao terreno.
O expoente máximo está atracado nas marinas onde os iates competem em tamanho. Parece não haver limite além da imaginação humana e o pecado da luxuria há muito que perdeu crentes. O Musée Océanographique é publicitado em letras gordas mas não consegue surpreender.
O fulgor da cinematográfica Cannes será mais brilhante quando as passadeiras vermelhas estão estendidas para as quentes horas do festival anual. Quando os flashes cessam a cidade não perde as suas lojas de alta costura onde copos de champagne são passeados à porta fechada enquanto modelos profissionais se exibem em apresentações particulares.
O melhor de Cannes obriga a navegar até às Îles de Lérins. Sem autorização dos ponteiros do relógio para visitar ambas as ilhas rumei à Île Sainte-Marguerite onde a água do mar parece ganhar transparência com a calma envolvente. Nos seus 3 quilómetros de comprimento é possível caminhar sem ver água salgada como se em tão pequeno espaço houvesse possibilidade de vaguear sem norte. Longe dos prazeres mundanos cultivados na cidade o arquipélago é um oásis que não consegue cansar.
Paulo Vyve